segunda-feira, 30 de abril de 2012

PândegaPanda está melhor.

Gente querida:

Mais uma vez obrigada. O apoio e as manifestações ajudam muito. Por mais altruísta que se seja, tem momentos que a gente precisa olhar para si e pedir ajuda. Acho que na sexta-feira foi o que me aconteceu - não que eu seja "a" altruísta mas que na sexta eu estivesse mais em condições de receber do que de dar, entendem? Eu precisava de ajuda, de suporte, de forças que sozinha não conseguia encontrar. E vocês, amigos de longe, de perto, conhecidos e desconhecidos foram fundamentais. Mais uma vez obrigada!

Eu já estou melhor. Mais tranquila, passado o choque inicial, e  mais afastada da situação eu consigo raciocinar melhor em cima do que aconteceu, do diagnóstico que recebi, do comportamento do médico...

Perdoem-me se eu for me repetir mas eu já falei que eu costumo "sair" do meu corpo para resolver meus problemas? Acho que nunca falei sobre isso. Vou explicar antes de acharem que faço viagens astrais - o que não faço ou se faço estava muito louca e nunca me lembro de nada, hehehe. Mas essa viagem acontece assim: primeiro eu começo a me imaginar fora do meu corpo, eu me olho de cima, flutuando, voando cada vez mais alto e longe de mim mesma, longe da situação que me angustia. Assim, eu fico fora do problema e isso me dá liberdade para pensar em uma solução para ele. Eu fico mais isenta, penso de maneira mais pausada e moderada, desapaixonada. Penso que o problema não é meu, é daquela PândegaPanda pequenininha, lá embaixo. E eu penso como eu resolveria o problema dela - que não é meu. A gente sempre encontra solução para o problema dos outros, é sempre mais fácil quando não tem as nossas emoções envolvidas, não é mesmo?

Bom, explicado o meu método de resolução de problema - que algum psicanalista identificaria como um transtorno mas que não significaria nada para mim já que eu não suporto Freud e sua pseudociência - eu digo que ao me afastar daquela consulta, daquela notícia, daquela sequela, eu consegui pensar um pouco no como lidar com esses problemas e acabei me sentindo bem melhor.

Decidi (até segunda ordem) não voltar mais nesse oncologista. Oras: se eu tenho medo desse médico por que devo ir novamente a ele? Se o problema em questão não é mais oncológico (é uma sequela do câncer mas não um câncer) por que tratar com um oncologista e não com a minha proctologista? Aliás, eu tenho estenose anal? Ele disse mas eu não tenho os sintomas típicos. Então antes de surtar eu deveria ter me afastado e raciocinar. Por hora eu decidi ir à minha procto e conversar com ela sobre isso. E só. :o)

É isso. Beijocas.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Eu pensei que tivesse acabado...

Eu volto a trabalhar em 5 dias, menos de uma semana. Ou seja, minha licença, meu período para tratar o câncer e me recuperar, em tese, acabou. Da cirurgia (de onde saiu a biópsia) para agora se passaram 6 meses. Eu pensei que agora não fosse haver mais sofrimento. Pensei que não haveria mais dores, principalmente. Mas não é bem assim que as coisas acontecem.

Fui hoje ao oncologista cirúrgico. Ele fez o toque retal. O exame desse médico foi infernal, doeu muito e saiu bastante sangue. E, se não bastasse tudo que me aconteceu, toda a dor dos meus tratamentos agora tem essas sequelas malditas e infernais. A parte boa é que ele verificou que a lesão desapareceu e informou que em casos como o meu há 97 a 98% de chance de o câncer não voltar. Ótima notícia, claro. Porém, tem sempre um porém...

Bom, além da estenose do canal vaginal, da fibrose do colo do útero, da diminuição da função ovariana e de outras sequelinhas menores, eu fiquei com uma estenose do ânus. Caramba, eu não sou tão forte assim, Deus. Se não bastasse tudo que já me aconteceu, toda a dor dos meus tratamentos agora tem essas sequelas malditas e infernais. Eu já estou me sentindo a última das mulheres, seca e infértil, com cabelo ralo, manchas horrorosas na pele, ainda tem os tratamentos dessas sequelas que me são dolorosos e humilhantes.

As vezes eu tenho vontade de desistir e de nunca mais voltar nos médicos.

domingo, 15 de abril de 2012

Disfunções sexuais e câncer

Vocês sabiam que a radioterapia pode causar, como sequela ou efeito colateral, algum tipo de disfunção sexual? É bem verdade que eu não achei nada referente ao meu tipo de câncer mas como a radiação acontece no mesmo lugar (pelve) eu fui ler a respeito da RT em câncer de ovário, colo do útero e próstata. Um desses trabalhos que li está disponível no http://www.scielo.br/ .

Bom, eu descobri a minha disfunção meio na marra... Depois de receber o "OK" do meu radioterapeuta, eu parti para a brincadeira propriamente dita e simplesmente não consegui. O pênis não entrava, sentia dores terríveis. Eu chorei, meu marido chorou e foi horrível, não dá vontade nem de tentar de novo!

Aí começaram meus problemas. E eu vou dividi-los com vocês, mais uma vez, passando por cima da minha vergonha com o intuito de ajudar alguém que esteja passando pelo mesmo problema e que, assim como eu, não tenha sido orientada a respeito. Até porque minha impressão não foi boa com relação a várias orientações que recebi mas principalmente sobre as que não recebi. Eu pensei que fossem me tratar do câncer mas todos parecem exclusivamente preocupados em tratar o câncer...

Pois bem, desde o início de março eu fiquei encucada com esse negócio de não conseguir transar. Todo mundo me dizia que era algo da minha cabeça, medo de sentir dor, baixa libido... Até que conversei com uma amiga que além de me recomendar tentar usar Dersani como lubrificante, recomendou que eu fosse a um ginecologista. E essa consulta aconteceu sexta-feira passada, 13 de abril.

O problema não era da minha cabeça. Além de o meu canal vaginal ainda estar inflamado, estar sem lubrificação (que não deve voltar), formou-se um anel fibrótico no meu colo uterino e, ainda, aconteceu um estreitamento do final do canal vaginal, tudo provavelmente como sequela da radioterapia.

A sensação que tive quando ela disse qual era o motivo desse desconforto ao sexo foi um misto de alívio e desânimo. Alívio por saber que a dor e o incômodo que eu sentia não eram causados por medo, não eram "inventados" por minha cabeça - há, de fato, uma limitação física que "encurtou" a minha vagina. E desânimo porque há uma limitação física...

E qual é o tratamento, então?

  • Primeiro, manter a vagina lubrificada MESMO que não vá fazer sexo colocando KY ou dersani para manter a mucosa lubrificada/hidratada.
  • Segundo, massagear esse anel fibrótico ou com o dedo ou com um dildo, sem provocar dor, tentando "amaciar" a fibrose e dilatar a vagina.
  • E, acreditem, o terceiro tratamento, é fazer sexo. :oP Mas como a ginecologista disse, nesse momento meu marido precisa ser um companheirão (sem trocadilhos, por favor) para fazer com delicadeza, forçando sem causar dor. E se em 6 meses (isso tudo!?!?!) a dilatação não for satisfatória, existe ainda possibilidade de fazer uma cirurgia.

Agora eu pergunto: por que meus médicos não me mandaram ir ao ginecologista para uma avaliação já que esse tipo de sequela/problema é comum em radioterapia da região pélvica?

Bom, pelo menos a minha amiga, médica e paciente de câncer de mama, Dra. Marina, mandou que eu fosse. E ir foi a melhor coisa que eu fiz: ainda que ir não tenha resolvido o problema pelo menos eu já sei que estou no caminho e orientada para isso.

Beijocas a todas!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Uns pensamentos

Frequentemente eu venho ao editor de postagens do blog, começo a escrever e desisto. Não sei bem porque isso acontece. Hoje, como uma amiga me mandou uma mensagem querendo notícias precisei, de fato, organizar as ideias para responder para ela. Acho que isso pode me ajudar a escrever o que eu venho pensando mas que "não sai". Desde já, peço desculpas se tudo soar desconexo.

Eu estou me sentindo mais ou menos. Tem dias, como hoje, em que eu estou beeem menos. Não é tão linear o meu humor, aliás nunca foi mas ficou muito pior. Tem dias ótimos em que eu acredito ser muito forte, estar curada, tocando minha vida. Tenho ido 3 ou 4 vezes por semana à faculdade, contratei a personal trainner, bem ou mal estou retomando a minha vida. Mas aí, em outros dias, eu fico mal, tão mal que só penso nas sequelas - ovários fudidos, dor bem menos frequente mais ainda resente, cabelos horrorosos, queimaduras na pele, choro no meio do treino na esteira ou pior, nem saio de casa e falto deliberadamente aos meus poucos compromissos.

Ter um câncer não é simples nem fácil. Os sentimentos se misturam e ficam complicados.

Tenho pensado muito nessa coisa do não ter filhos. Fico matutando o porquê de se juntar patrimônio quando não se tem para quem deixar. Cada vez mais leio da minha própria vida que preciso vivê-la mais, ter mais prazer. Não vou deixar nada nesse mundo, nem lembranças.

Todo mundo sofre, não dá para medir o quanto de sofrimento cada um carrega ou vivencia. O máximo que dá pra gente saber é que alguns sofrem por mais tempo do que outros. Tem gente que perde um ente querido, tem gente que perde um membro ou uma parte do corpo, tem gente que perde uma função orgânica. Não dá para comparar sofrimentos.

E o grupo do facebook "amigas do peito" tem me ajudado bastante. Elas - meninas com câncer de mama - me aceitaram lá e a troca de energia é ótima. Se com elas eu estou assim sem elas não imagino como estaria. às vezes - hoje, por exemplo - mesmo eu mesma querendo sumir consegui dar ânimo para outra menina que estava mais desanimada do que eu. Enquanto escrevia para animá-la pensava que era aquilo que eu deveria "pensar/sentir" em mim. É engraçado isso.

Por hoje é isso. Parece que eu fumei um baseadão e saí falando loucuras mas acredite não foi o caso... foi somente uma verborragia.

Beijocas.